quarta-feira, 12 de setembro de 2007

PITTY

Pitty 3.0
Prestes a completar 30 anos, a roqueira baiana Pitty passa a limpo sua breve – porém vitoriosa – carreira e diz o que pensa sobre aborto, moda, vaidade, assédio dos fãs e seu futuro no showbiz
Por Marcelo Ferla

Priscilla Novaes Leone, mais conhecida como Pitty, é uma cantora brasileira de rock", diz a Wikipédia, enciclopédia livre colaborativa da internet. Pitty, essa cantora brasileira de rock, líder da banda que leva seu nome, filha de um músico com quem não fala há mais de dez anos, ex-aluna da Faculdade de Música da Universidade Federal da Bahia que não concluiu o curso, garota tatuada que se vestia de preto na adolescência, é, acima de tudo, a mulher de quase 30 anos (ela faz aniversário no dia 7 de outubro) que cativa boa parte das adolescentes brasileiras, aquelas que consomem suas letras como se fossem conselhos de uma irmã mais velha, mais experiente. Pitty, que neste mês lança seu primeiro DVD ao vivo, gravado em São Paulo, com canções de seus dois álbuns de estúdio, "Admirável Chip Novo" (2003) e "Anacrônico" (2005), e duas faixas inéditas, "Pulsos" e "Malditos Cromossomos", admite que "está ficando cada vez mais mulherzinha" enquanto sente o tempo passar.

Agora que está chegando aos 30 anos, você, que é idolatrada por adolescentes, tem alguma preocupação de se desconectar de seus fãs?
Não me preocupo. Eu preciso me expressar, é para isso que tenho a música. Se tocar as pessoas, melhor. Além disso, verdades diferentes podem tocar pessoas diferentes.
É um desejo seu que as pessoas mais velhas gostem do seu som?
Não me interessa a faixa etária, e sim a real identificação. Vou fazer 30 anos, mas ainda guardo sentimentos típicos da adolescência que não quero perder: a vontade de questionar, a curiosidade, a não-acomodação. Se para ser adulto e maduro é preciso simplesmente se conformar com a vida, me deixe aqui com minhas criancices.
Você acredita no seu poder de opinião?
Às vezes eu penso na frase de Antoine de Saint-Exupéry (escritor francês, autor do livro "O Pequeno Príncipe"): "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Mas, na maioria das vezes, a idéia do livre-arbítrio me soa mais honesta. É tão mais fácil e injusto culpar o outro, o mundo, a sociedade por nossas atitudes e erros! Por mais que eu saiba que alguma atitude de fã se deu por influência da minha obra, ainda assim sei que foi uma opção pessoal. Que meus fãs não se coloquem como ovelhas, e sim como senhores de suas próprias vidas.
Qual sua opinião a respeito do aborto?
Deve ser uma escolha pessoal e tomada de acordo com as crenças e possibilidades de cada mulher, por isso não deve ser um crime. As pessoas confundem questão de saúde pública com dogmas religiosos. Existem muitos credos e todos têm de ser respeitados. Mas isso não significa que o aborto deva ser banalizado e feito de forma aleatória. É muito mais grave existirem mulheres se arriscando a abortar clandestinamente ou tendo bebês que serão jogados em uma lata de lixo.
Você gosta de desenhar as próprias roupas. Até que ponto o que veste é espelho do que quer dizer?
Driblei a sensação de futilidade que envolve o mundo fashion para descobrir que o vestuário pode, sim, ser um manifesto. Pode até ser uma forma de expressão capciosa, já que é possível, também, vestir-se como um personagem. Só fico incomodada com o lado estritamente consumista, a idéia de que você precisa possuir determinadas coisas para ser aceita.
O fato de não se relacionar com seu pai lhe deu uma visão mais amarga do universo masculino?
Eu e uma amiga começamos a elucubrar sobre quanto os casamentos falidos de nossos pais influenciaram nossa visão dos homens. Como meninas, acabamos inconscientemente tomando as dores de nossas mães, mas tento separar o masculino do feminino, pensando apenas em pessoas e índoles.
O que você não tolera nos homens?
O machismo conveniente e a utilização da teoria da superioridade do macho apenas para se justificar.
E o que mais gosta?
O equilíbrio da polaridade, a proteção, as linhas de raciocínio práticas; o timbre da voz, a barba, o cheiro...
Uma roqueira (que toca guitarra) pode se preocupar com as unhas?
Pode sim, sou mulher, ora. Mas, no meu caso, todos esses cuidados ocupam um lugar apenas justo para eles. Faço coisas que vão me deixar melhor, mais saudável, mais confiante, com a auto-estima legal. Pratico ioga, hidrato os cabelos, faço as unhas. Adorei descobrir a drenagem linfática por causa da retenção de líquidos na TPM. Sou mulher igual a todas, só que sem paranóia. Quanto mais o tempo passa, mais mulherzinha eu fico.

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