quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Beleza Americana

Ontem, no Filmes que eu Gosto, Filmes que eu Indico, indiquei o filme Beleza Americana, que é um dos filmes que eu mais gosto, acho realmente espetacular! E hoje, navegando achei um comentário sobre o filme num blog de um comentarista da Época, que é magnífico, vejam abaixo:

Escrito por Fabio Hernandez - 20/09/2007
Conte com você mesmo
Uma cena de Beleza Americana me impressionou particularmente. O filme todo me fascinou, aliás. Tenho que vê-lo de novo. Acho sublime, comovedora aquela busca desesperada e vã do homem pela juventude perdida. Mandar para o lixo a carreira bem-comportada depois de uma conversa franca com o chefe dilbertiano e ir trabalhar numa lanchonete, sem metas e cobranças que fossem além de entregar com um sorriso o hambúrguer para o freguês. Comprar um carrão imprestavelmente lindo de 20 anos atrás apenas para realizar um sonho que ficara lá longe num mundo que se perdera. E correr atrás de uma garota como se fosse, ele próprio, um garoto, e não um homem vencido pelo correr dos dias. Braços remando contra a correnteza, como escreveu Fitzgerald no final de Gatsby.Somos condenados a remar contra a correnteza, e só não encerro esta digressão aqui porque me ocorre uma frase cortante como a espada de Musachi, o maior dos samurais: o tempo nos tira as certezas que temos na juventude e, ao perdê-las, vai com elas uma ousadia petulante que é maravilhosa por ser ingênua. E essa é a maior das maldades do tempo, ainda que as certezas fossem, todas elas, erradas. Mas era sobre a cena da primeira sentença que eu queria falar. A mãe frustrada, que imagina encontrar a resposta para um casamento miserável nos braços de um amante rico e engomado, diz para a filha depois de uma briga conjugal que terminou com pratos lançados na parede: "Você aprendeu a maior de todas as lições. Você aprendeu que tem que contar apenas com você mesma". Sócrates não teria falado nada melhor. Talvez Sêneca, mas mesmo assim não tenho certeza.Temos que contar com nós mesmos e, no entanto, quase sempre depositamos nossa felicidade (ou nossa infelicidade) nos outros. Ninguém pode nos ajudar se nós próprios não nos ajudamos. Ninguém mesmo: nem a mãe, o pai, o amigo, o irmão, a namorada ou a mulher. Ninguém. Vivemos num mundo em que a solidão é tratada como um anátema, um estigma, um mal a evitar. Um grande homem da Roma Antiga disse que jamais estava menos só do que quando estava só, entregue às reflexões. E no entanto poucas coisas nos enchem de tamanho horror quanto a solidão. É porque não contamos com nós mesmos. E assim - e lá vou eu para mais uma de minhas citações favoritas - estamos sempre fugindo de nós mesmos. Lucrécio, a quem possa interessar.A única coisa que temos sob nosso controle somos nós. É com você mesmo que você deve contar. Não pode haver mais sólido refúgio do que esse contra as adversidades e incertezas da vida. Foi isso que, naquela cena de Beleza Americana, a mãe disse à filha. Era uma mulher histérica, descontrolada, falsa. Mas, repito, nem Sócrates poderia ter dito uma coisa mais sábia à garota arrasada.

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