segunda-feira, 8 de outubro de 2007

MARCELLO ANTONY

"Isso está parecendo o mapa da bacia amazônica", diz em tom de piada ao analisar o close que revela as rugas ao redor de seus olhos. Vaidoso não assumido, não precisa fazer nada para agradar as mulheres, que, diante dos olhos verdes, não conseguem se deter nas tais linhas de expressão. Até virar ator, tentou os mais diversos caminhos, mas quando descobriu o verdadeiro talento, aos 26 anos, não parou mais. Hoje, aos 42, acaba de se despedir de Cássio de Paraíso Tropical, um boavida que fugia do compromisso. Marcello conta que eles são opostos nesse aspecto. Seu casamento com a atriz Mônica Torres já conta 11 anos e tem como frutos Francisco, 4, e Stéphanie, 7. Falar desse trio provoca no ator um brilho no olhar sem igual. Alguém se preocupa com rugas?
Daniela Salú
Existe algo que você não faria pela arte?
Matar. Ou passar por cima de alguém. Em todos os setores acontecem coisas desse tipo, mas no meio artístico isso se manifesta de maneira mais forte. Os egos são mais evidentes e as vaidades ficam bem visíveis.
É difícil manter os pés no chão quando se está no horário nobre da emissora de maior audiência do país?
Para quem está no começo é mais fácil se deslumbrar. Acabei de fazer minha décima novela, a sétima do horário das 8, então é tranqüilo. No início é difícil, realmente.
Você chegou a sucumbir a isso em algum momento da carreira?
Não. Eu vislumbrei a possibilidade de vir a sucumbir. Acho que a maior vantagem de ter começado a trabalhar tardiamente como ator é que soube aproveitar meu poder de observação e trazer isso para mim e para os personagens.
O Cássio de Paraíso Tropical tem algo em comum com você?
Em Copacabana há vários homens como ele. Nós nos parecemos em alguns aspectos: cultivar uma boa relação com o esporte, curtir a praia, jogar futevôlei, ter responsabilidade profissional, trabalhar até tarde da noite quando é preciso. Mas o lado de querer sair com várias mulheres ao mesmo tempo vivi na adolescência. Nesse ponto somos opostos. Até se apaixonar pela Joana [Fernanda Machado] ele queria ficar sozinho, não tinha compromisso com ninguém. Eu sempre quis uma família, ter responsabilidade, ser pai. Quero cuidar.
Você se sente com a idade que tem?
Com um ano a menos [risos]. Esse negócio de idade é engraçado, porque a gente vai envelhecendo, mas, ao mesmo tempo, permanece sendo como sempre foi. Quando nasci, uma pessoa de 40 era considerada velha. Tenho 42 e me sinto jovem. Achava que quando chegasse aos 40 iria estar alquebrado, com uma barba rala, andando com dificuldade para lá e para cá.
Ser apontado como um modelo de beleza masculina aumenta sua preocupação com o visual?
Não, se o cerne da questão for apenas vaidade. Quero estar bem fisicamente porque assim posso obter mais papéis. Jogo muito tênis e futevôlei e faço um pouco de musculação para a manutenção do tônus. Compro roupa pelo conforto. Me identifico com as peças do Ricardo Almeida e da Kappa, linha esportiva que patrocina o Botafogo, meu time. Visto basicamente jeans e camisa. Não sou muito preocupado com esse assunto, acabo usando o básico mesmo.
Gostou de ficar careca para esse papel?
Foi idéia minha. Já tinha ficado careca no filme O Dia da Caça, em que raspo o cabelo em cena. Por isso já sabia como minha cara iria ficar. Comprei essa briga com o pessoal da produção no começo da novela e acho que foi bom para o personagem.
E sua mulher, a atriz Mônica Torres, gostou ou reclamou do resultado?
Ela aprovou, claro. Estamos juntos há 11 anos. Sempre que me perguntam sobre como uma união pode ser duradoura respondo que cada uma tem seu tempero. No meu caso, é respeito, companheirismo e muito amor.
Quais eram as suas expectativas em relação à paternidade?
Eu sempre quis ser pai. Queria cuidar da formação de seres humanos, independentemente de ter filhos naturais ou não. Sempre pensamos em adotar. Quando olhei para o Francisco pela primeira vez houve uma conexão imediata. Na hora pensei: "Onde é que você estava, menino? Que saudade de você". Com a Stéphanie foi diferente. Nos conhecemos e fomos nos conquistando de um jeito gradativo e crescente - e que não parou mais.
Falta tempo na sua vida?
Não, está bom como está: família-trabalho-família. O dia-a-dia é sempre uma luta para a organização de horários. Tenho um tempo comigo mesmo à noite, pois as crianças dormem cedo. Meus maiores prazeres são os mais simples: ficar em casa, jogar bola com as crianças, conferir o dever de casa. Não passa pela minha cabeça parar de trabalhar. Pode até ser que algum dia queira me experimentar como diretor. Acredito que tenha talento para a direção, mas não vocação. Explico: quando acabo de gravar, quero ir para casa. Se fosse diretor, teria que ficar no estúdio para editar, montar cenas etc. Preciso da minha família para me recarregar e poder concluir um ciclo.

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